Série: Greve histórica [parte 2]

O portal marcozero publicou uma reportagem histórica e curiosa sobre uma greve de trabalhadores que aconteceu em 1958. O feecidadaniape reproduz este conteúdo em formato de série. Vamos à segunda parte da matéria.

O clima de violência instalou-se logo na primeira semana. A categoria se viu dividida entre aqueles que aderiram à greve e aqueles conhecidos como “furões”. A Polícia Militar se posicionou de forma a beneficiar as indústrias que tentavam desmobilizar a paralisação. Faziam a segurança do transporte dos “cabelouros”, ou seja, trabalhadores desempregados trazidos em sua maioria de Goiana e Paulista para furar os piquetes e manter a produção de tecidos. Capangas atuavam armados na repressão, houve trocas de tiros e espancamentos.

Desde a segunda semana até o fim da paralisação, os trabalhadores não receberam salários. Na dissertação A Fábrica de tecidos da Macaxeira e a vila dos operários: a luta de classes em torno do trabalho e da casa em uma fábrica urbana com vila operária, de Emanuel Moraes, mestre em História pela UFPE, há relatos sobre operários que caíam de fome durante as assembleias. O sindicato puxou uma campanha de solidariedade para angariar alimentos e dinheiro que foi recebeu adesão de setores do Governo do Estado, de deputados estaduais e de alguns vereadores da Câmara do Recife, além de organizações sindicais de outras categorias profissionais.

A violência só amenizou após atuação do governo estadual, que tinha, à época, Cordeiro de Farias como governador. Daí começaram as tentativas frustradas de conciliação jurídica, quando até o Ministério do Trabalho chegou a enviar um emissário oficial, Crockatt de Sá,  para mediar o diálogo. Uma semana antes do fim da greve, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) julgou o dissídio coletivo estipulando 18% de aumento no salário dos operários.

Insatisfeitos com a decisão e temerosos pela retaliação e repressão pós-greve, já anunciada pelo sindicato patronal, na última semana de paralisação os trabalhadores se rebelaram e a violência voltou de forma intensa. Grevistas e “cabelouros” entraram em conflito direto. As fábricas não precisaram pagar os 25% de aumento e os trabalhadores brigavam entre si por causa dos seus direitos sucateados.

De acordo com a professora do Departamento de História da UFPE, Maria do Socorro Abreu e Lima, “vale ressaltar que a repressão às greves era forte e as fábricas eram dispersas e, muitas vezes, pequenas. Outro fator a ser considerado era que o Recife concentrava uma parcela grande de desempregados e subempregados, o que contribuía para o enfraquecimento dessa forma de luta dado o medo do desemprego”.

Após este marco, o movimento operário sofreu grande desmobilização. Assim como na greve anterior, em 1952, cada vez menos operários eram sindicalizados. Só nos anos 60, quando João Goulart tornou-se presidente da República e Miguel Arraes assumiu o governo do estado de Pernambuco, o apoio de ambos governos fortaleceu o movimento sindical como um todo.

Por Helena Dias / Marco Zero