O pior trânsito [Final]

Encerrando a reportagem publica no jornal espanhol El País, o poder público municipal enumera possíveis soluções para o problema do trânsito no Recife.

Em meados de 2015, a Prefeitura começou a formular um novo plano de mobilidade. O primeiro passo, explica Sideney Schreiner, foi ouvir a população. Nas audiências, temas muito lembrados foram a falta de infraestrutura cicloviária, sombreamento e iluminação nas vias e o aumento das faixas exclusivas de ônibus, chamadas aqui de faixas azuis. Mas o que chamou a atenção de Schreiner não foram as reclamações por falta de ar condicionado nos ônibus ou a condição das calçadas – muito ruim, inclusive nos bairros de classe média e alta. “A nossa surpresa foi a intensidade com que as pessoas se referiram à falta de respeito no trânsito”, diz Schreiner.

De fato, a amabilidade do pernambucano parece que fica da porta para fora do automóvel. Uma quase obsessão por buzinar e o desrespeito ao pedestre fazem parte do cotidiano do trânsito local. Diferentemente de outras capitais próximas, como Maceió e João Pessoa, por exemplo, no Recife o hábito de o motorista parar na faixa de pedestre é quase inexistente. Por isso, diz Schreiner, outra vertente do plano é a criação de um programa de educação no trânsito. “E isso não é só palhacinho mandando parar na faixa, é uma oportunidade de construção de cidadania”.

O plano de mobilidade será estruturado em 30 programas de ação. Cada programa terá uma série de projetos. Pedágio urbano, rodízio de veículos e restrição de circulação estão sendo estudados. Expandir as faixas de ônibus e a rede cicloviária e melhorar a condição das calçadas fazem parte das ações. O projeto ainda está em fase de estudos e elaborações, e as propostas finais e a consolidação, últimas fases do plano, ainda não foram iniciadas.

Schreiner afirma que essas etapas devem sair até o final deste ano. Morador do bairro do Espinheiro, na zona Norte do Recife, ele diz ser um “ativista da não viagem”. “Meu trabalho está a 3,95 quilômetros de casa e eu vou a pé todos os dias. Além disso, evito ir ao supermercado, compro pela internet e quando tenho que me deslocar, uso basicamente ônibus e quando necessário Uber ou táxi” diz. “Tento convencer algumas pessoas a não ter carro também. Quando eu falo que não tenho carro, muita gente pensa que eu sou profissionalmente um fracasso. É difícil convencer as pessoas de que dá para viver assim”.