O pior trânsito [Parte 1]

A matéria foi publicada em 05 de julho, mas não se desatualiza de maneira alguma. Marina Rossi assina o texto. Como o conteúdo é bem complexo, decidimos fazer uma série pra não perder nenhuma palavra dessa análise publica no jornal espanhol El Pais.

O superlativismo pernambucano é uma piada até entre os nativos do Estado. O "maior museu de armas brancas do mundo" ou a "maior via em linha reta do Brasil" são, por exemplo, como se referem ao Instituto Ricardo Brennand e à avenida Caxangá, respectivamente. Mas, em meio a tantos superlativos, a capital pernambucana também ostenta pódios negativos: um dos piores trânsitos do país.

Levantamento realizado no final do ano passado pelo aplicativo de transporte urbano 99 colocou o Recife em primeiro lugar entre as cidades brasileiras com pior trânsito em horário de pico do Brasil - um problema que a Prefeitura da cidade se prepara para atacar com um plano ainda em gestação. Segundo o estudo, quem precisa andar de carro nos períodos entre as sete e dez horas da manhã, e cinco e oito da noite, pode demorar até o dobro de tempo que fora desses horários para chegar no destino final. Em média, os trajetos feitos na capital pernambucana nesses horários demoram 86% de tempo a mais do que se feitos fora do horário de pico. Porto Alegre e Belém vieram na sequência.

A mobilidade urbana é uma questão enfrentada pelas grandes cidades em todo o mundo. Não é uma particularidade de determinadas regiões brasileiras ou de países subdesenvolvidos. Mas, no caso do Recife, algumas peculiaridades devem ser levadas em conta para explicar esse problema. A primeira é de cunho histórico, como explica Leonardo Meira, professor do departamento de engenharia civil na área de transportes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). “Recife é uma das cidades mais antigas do Brasil [fundada em 1537], e as ruas que foram projetadas para as carroças hoje comportam carros", diz. "Há um problema de espaço”.