130 anos da abolição

Em pleno dia das mães (13 de maio) é preciso lembrar os 130 anos da abolição da escravatura no Brasil.

A especialista em gestão de políticas para gênero e raça, Joceline Gomes, e a Elizabeth Braga produtora multimídia, militante independente, sensível às questões dos negros e suas lutas falaram sobre a questão à Agência do Rádio: 

“Todo preto sofre racismo, você já nasce no racismo, entendeu? Quando uma mulher preta entra em trabalho de parto dentro dos hospitais, eles dizem o seguinte: 'Não, dá menos anestesia para ela... porque ela é mais forte'. Não sou eu que estou dizendo isso não, tem um estudo que prova isso, que mostra isso. Então assim, a gente já nasce vítima do racismo.”

Os dados são realmente alarmantes. A cada 23 minutos, por exemplo, um jovem negro é morto no Brasil. A cada dia, são 66 vidas perdidas, totalizando 4.290 óbitos por ano. Segundo o Mapa da Violência, um rapaz negro tem até 12 vezes mais chance de ser assassinado em relação a um branco. Em comum nesses homicídios, está a presença do racismo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). O que deve ser feito para mudar esse cenário?

“O Brasil está hoje tentando fazer uma reparação que deveria ser iniciada há 130 anos. Digamos que ela começou a ser feita agora. A denúncia sempre aconteceu. A questão é: o que foi feito com a denúncia? Por que por muito tempo, inclusive até hoje as denúncias, quando a gente chega em uma delegacia para denunciar caso de racismo, nós somos desencorajados a prosseguir com o registro pelos próprios policiais. Então assim, o Disque 100 surgiu, é uma plataforma válida, mas a gente não consegue acompanhar o fim que essa denúncia teve. 'Não, você vai abrir um boletim de ocorrência só para isto? Não, não era isso não. Era só brincadeira. Ah, não acredito'. Entendeu? Então assim, nós somos desencorajados. E isso também é um prática de racismo institucional da polícia. Então, eu vejo que o aumento das denúncias se deu por isso. Por que, na verdade, a denúncia sempre foi feita, mas o registro não era feito. Então é como os casos de estupro, né? Assim, não comparando uma coisa com a outra, mas assim, muitas mulheres não denunciam, e hoje que está havendo um incentivo maior para que estas denúncias sejam feitas. Ah, casos de estupros aumentaram. Não, não aumentou. O número de denúncias registradas que aumentou. De fato, falta uma sensibilização destes agentes públicos, falta uma sensibilização, principalmente das forças da polícia, que geralmente são as que recebem este tipo de denúncia de crime. Por que racismo é um crime, inclusive inafiançável. Então falta sensibilização destes agentes públicos para compreenderem a importância do registro e de receber esta pessoa e registrar. Por que quem sabe o que é racismo ou não é a pessoa que sofreu. Não é a polícia que vai chegar e falar isso não é crime, isso não é racismo, isso é uma brincadeira, isso foi um mal entendido. Não é mal entendido. É racismo!”

De 1888 para cá, secretário, o que mudou?

“Apesar da vitória representada pela concessão de direitos fundamentais quilombolas pelo Supremo Tribunal Federal e a adoção das cotas nas universidades e também no serviço público, nós não temos muito a comemorar. Desde aquele 13 de maio de 1888, nós estamos completando130 anos da dita abolição da escravatura, em que o negro ainda está sujeito a exclusão social, refletido nas condições precárias de moradia, a serem as maiores vítimas fatais de violência, na falta de acesso aos serviços básicos, pouca representatividade nos serviços públicos e na política em função da prática criminosa do racismo. Para atenuar o racismo, o Ministério de Direitos Humanos coloca à disposição os canais de denúncia, Disque 100 e o aplicativo Proteja Brasil, que são serviços de atendimento telefônico gratuito, durante 24 horas, destinados a receber demandas relativas a violações de direitos humanos e, em especial, as que atingem a população em situação de vulnerabilidade. Nós ainda temos muito trabalho pela frente.”

É importante dizer também que não importa se é maio, junho, julho, agosto, dezembro, é preciso que a gente fale sobre o assunto e que a gente discuta sobre a inclusão dos negros.